Chimarrão

Pra fazer o mate amargo,

Erva nova de primeira.

Uma bomba, uma chaleira,

Uma cuia bem curada.

Garrafa térmica e nada

Mais precisa o chimarrista

Do que seguir nesta pista

Para iniciar a mateada.

Enquanto a água se aquenta

Até chiar na chaleira,

Encha a cuia, de maneira

Que a erva fique de um lado.

Ponha a água com cuidado

Pela borda do porongo.

Pouca erva é mate longo

E, muita, fica atolado.

Então o mate descansa

Até ficar bem cevado.

Que quer dizer bem inchado

Pra não dar entupimento.

A bomba, neste momento

Em que o dedão fecha o bocal,

Se coloca no local,

Evitando movimentos.

Chupe o mate até roncar,

Tomando ou botando fora.

Está cevado. E, agora,

Quem cevou toma o primeiro.

A roda é contra os ponteiros

E o mão toma o segundo.

E, depois, prá todo mundo

Até o sota, derradeiro.

Cada um recebe a cuia

E passa co’a mão direita.

O que agradece, rejeita,

E passa a ser preterido.

Aguarde pra ser servido.

Faça roncar, não é feio.

Não entregue pelo meio

Nem o devolva entupido.

Esta herança missioneira

É, certamente, o debuxo

Que identifica o gaúcho

No contexto da nação.

A erva do chimarrão,

Encoxilhada num canto,

É o pala verde Esperanto

Que recobre o meu rincão.

iberemachado@yahoo.com.br

Iberê Machado
Enviado por Iberê Machado em 25/01/2006
Reeditado em 31/01/2006
Código do texto: T103566