Repontando Rimas

Sou gaudério e, quando canto

Rimando deste meu jeito,

No verso grosso e mal feito

Ato um lenço à meia espalda.

Da memória faço armada

E o meu toso se alevanta.

Um cantador, quando canta

Num atavismo milongueiro,

Tem sempre um verso folheiro

A galopar na garganta.

Enquanto me vou cantando

Copo a banca da milonga.

Dança o bugio co’a araponga

E vou repontando as rimas.

Rimam bordonas e primas

Contando de uma peleia,

De um bagual que velhaqueia,

Do amor da china lindaça

E se afinam na cachaça

Num balcão de pulperia

Pois rima não se extravia

E guasca não cabresteia.

Iberê Machado
Enviado por Iberê Machado em 31/01/2006
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