VOZES DO SILÊNCIO

É noite de lua cheia,

O céu está muito azul,

Aqui pelas bandas do sul.

Estrelas cintilantes contracenam,

Com os vaga-lumes, que ensaiam,

Um bailado vibrante.

O minuano sopra suavemente,

O orvalho despendido da noite,

Transformou-se em geada,

Que deixou a pampa congelada,

Como um lençol branco,

Estendido por sobre os campos.

Aqui. Acolá. Ouve-se o mugido

De alguma rês desgarrada.

Ouve-se de um cão o latido.

O muxoxo da coruja esperta,

O quero-quero sempre alerta,

sentinela dos pampas.

Avisa de qualquer aproximação.

Sentado, ao lado do fogo de chão,

Um gaúcho solitário, lança um olhar,

Para averiguar, o que se passa.

Espraia ao longe, até o horizonte,

Onde raios prateados de luar,

invadem seus olhos nostálgicos

e desenham figuras mitológicas.

Nas noites, de grande silêncio,

Ouvem-se as vozes dos combatentes,

farroupilhas, e o tilintar

estridente dos facões,

corajosamente a lutar,

com a força de bravos leões,

intermináveis peleias...

São as almas dos que tombaram,

nos combates e ainda procuram,

os filhos, maridos, esposas, irmãos,

mães e amigos que ali cairam.

E estraviados ficaram,

pelos campos, pelas trilhas,

pelos vales, rios e coxilhas,

e de lá ainda susurram...

Mas, que agora habitam,

apenas em nossas memórias,

eternizados nas páginas

gloriosas da nossa história...

Marco Orsi