O rancho da vida

Barreado e de pau-a-pique,

Cobertura de capim;

Há um rancho que vive em mim

Que um dia já foi morada:

Cumeeira bem quinchada,

Enfrentava sem temor

Do Minuano o rigor,

Pois havia nos pelegos

Ternos braços pro sossego

E uma ponchada de amor.

Barreado e de pau-a-pique,

Cobertura entordilhada;

Aquerenciou-se a geada,

Tornou-se cinza o braseiro;

Só o silêncio é o parceiro,

E curvaram-se os moirões,

Mermeram-se as ilusões

Com a chegada do outono

E os pelegos no abandono

Guardam só recordações.

Barreado e de pau-a-pique,

Cobertura de esperanças,

Fiz da saudade uma trança,

Dos sonhos, uma roseira,

Que há de florir sobranceira

Num coração que assevera

Que um rancho mesmo tapera

Renascerá com vigor,

Pois onde existir o amor

Sempre será primavera.

Jorge Moraes - livro: Quando os sonhos ganham asas

Jorge Moraes
Enviado por Jorge Moraes em 03/01/2010
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