Carreta do destino

Lentamente, o pala do crepúsculo

Veste de cobre a pampa verdejante;

Pelas frinchas penetra sibilante

Um lamento na voz do Minuano,

E a lua cheia, num trote soberano,

Vai repontando estrelas andarilhas:

Sentinelas do pago farroupilha,

Argentinas esporas do paisano.

A tisnada cambona fumaceia,

Silenciando o porongo rouquejante,

E a saudade rebrota num instante

Gineteando a fumaça de um palheiro;

Aninhado na volta do braseiro

Dorme um cusco de pelo indefinido,

E a panela de casco já encardido,

Bafejante, requenta o carreteiro.

Sobre a mesa cochila a lamparina,

E o cansaço emponchou-se nos pelegos;

Envolvido nos braços do sossego

Dorme um rancho de pilchas campesinas,

Que plantado no topo da colina,

Com a quincha roçando o firmamento,

Mais parece, em seu rude acabamento,

Um bueiro, unindo plagas divinas.

Os recuerdos cavalgam na garupa,

Atrelados ao flete da esperança,

E soluça a guitarra das lembranças,

Inundando a cacimba das paixões.

Falquejando no cerne de emoções,

Segue a passo a carreta do destino

Cabreteando amores teatinos

Pro sagrado rodeio de ilusões.

Jorge Moraes - Livro: Acalantos

Jorge Moraes
Enviado por Jorge Moraes em 09/01/2010
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