Rubrica do Rio Grande em Rubáiyát
Rubrica do Rio Grande em Rubáiyát
I
Rio Grande do Sul, meridional
Nação de povos vários, castiçal
Esta terra tão vasta de bons restes,
De tamanha beleza mui abismal!
O mar Atlântico te veste ao leste,
A Argentina das Pampas lá no oeste,
Ao norte se depara Doroteia
E ao sul o Uruguai de alviceleste.
Pois tudo começou com uma aldeia,
Que crescendo tornou-se uma idéia,
Volvendo os Sete Povos das Missões
Em dez mil vezes mil nesta assembléia.
No total sete meso-regiões,
E trinta e cinco micro-regiões.
Nem logro enumerar os municípios
Aos quais pertencem nossos corações!
II
Terra almejada, nobre por princípio,
Cunhamos liberdade nosso rípio,
Forjando a braço forte nossa história
De orgulho que jamais curvou a mancípio.
Faz-se mister louvar a trajetória
Da luta regional, de nossa glória,
E nas nossas cidades gritar: 'Viva
Bento Gonçalves, e viva a vitória!'
Não consumada mas sim relativa,
Do ideal que restou e a perspectiva,
Dum futuro melhor, paz infindável,
Justiça e resistência anti-passiva.
Assim a rebelião foi incensurável,
O ludíbrio do estado indefensável,
A voz gaúcha içou: 'Viva os Farrapos!'
Viva a sua memória inestimável!
III
História, tradição, vida e passado,
Rendemos homenagem aos finados,
Relembramos a luta bandeirante,
E celebramos os recém-chegados
Oriundos da Europa, nós imigrantes,
Deparamos hectares abundantes,
E tecemos o fio da riqueza
Tendo arrivado quase mendicantes.
Tornamos os suplícios em belezas,
Volvimos grandes muitas miudezas.
Quantas mãos na lavoura calejadas!
Manejaram a enxada com destreza.
Sangue, suor e lágrimas derramadas,
Mas anche a costela, a carne assada...
O chimarrão, a chácara lacustre,
Os vinhos, o peão, a paz conquistada.
IV
Dedico esta canção aos filhos ilustres!
Às mui belas Gisele e Daise Nunes,
Às letras de Veríssimo e Quintana,
A Felipão e também Dom Cláudio Hummes.
Dedico inda estes versos a Paulo Sant’anna,
À música outros tantos, a Adriana,
A Vaine Darde abraços, e a Gramado
Parabéns ao sucesso da semana!
Este ensejo aproveito prá orgulhado
Dedicá-lo a Dyonélio Machado
E seus Ratos, e a toda geração
De trinta, modernistas engajados!
E como esquecer? Cortês Paixão,
Que ia pilchado pro colégio e são
Barbosa Lessa, quieto literário...
Progênitos do sul, da tradição!
V
Eis que não cabe neste abecedário
Todo o orgulho, aqui faço epistolário
Prá render ao gaúcho homenagem,
Que com muito suor ganha o salário.
Que acorda cedo para ir à estivagem,
Que sofre com geadas e estiagem,
Que luta prá manter filhos na escola,
Que faz da vida exemplo de coragem.
Que no fim-de-semana joga bola
Com o guri na grama e deita e rola.
Que toma o mate quente com a esposa,
Que é linda china, ó corpo de viola!
Mulher gaúcha, bela mãe formosa!
Mãe solteira ou casada, é milagrosa
Faz milagres... educa, cuida, e ama
Sem limite, e não espera nada em troca.
VI
Nosso amor pela pátria é mais que chama,
Nesta prosa deslinda e derrama!
Ó união inquebrantável, Rio Grande!
Sempre o estandarte brasileiro aclama.
Às margens do Ipiranga o grito expande,
O sonho intenso de nação resplende,
A nova terra de esperança cresce
E lábaro estrelado o Brasil brande.
Ó liberdade que nunca arrefece!
A fraterna igualdade é teu alicerce!
Brasil, Rio Grande, ordem e progresso!
República teus seios, meu aderece!
Hermanos e hermanas, içai o verso
Guasca, brasileiro, e deixai impresso
Nosso âmago ao caráter nacional:
Ser gaúcho é amar o Brasil em excesso.