Ensejo do tempo


O velho ficava ali sentado,
Esquecido pelo tempo,
E pelos novos de sua gente,
Um tronco do passado,
Vivendo no próprio lamento,
De quem morreu sendo ainda alma vivente.

O velho tem muito para contar,
Mas não tem ninguém para ouvir,
Tem lições para ensinar,
Mas não tem com quem repartir,
Tem vida e alma de quem já viveu de tudo,
De quem conhece o valor da calma,
E sabe dos atalhos do mundo.

O velho trabalhará desde cedo,
E aprendeu com o próprio suor,
Sabe que é mais Feliz e sem medo,
Quem escolhe a labuta por amor.

Ali sentado sem atenção de ninguém,
Abandonado pela alma da chamorra menina,
Esquecido pela prole do mesmo sangue que tem,
Esperando o abraço da morte para cumprir sua sina.

Tem vontade de gritar num ultimo brado,
Eu to aqui, to vivo e ainda sou gente,
Mas sabe que não vai ser escutado,
E se for será de maneira indiferente.

Como pode a sina maldita ser tão cruel,
Que não entende o novo que velho a de ficar,
E o regalo do então velho em seu papel,
É esperar por alguém que lhe tenha um tempo para prosiar.
Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 24/04/2014
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