PEÕES, BOIADAS, ESTRADAS E CANÇÕES

A noite vai e o dia vem raiando

Desponta o sol e o céu se clareando

O boiadeiro reúne a manada

De várias raças, múltiplas estampas

Pontas afiadas no extremo das guampas

No chão, tropel e patas da boiada.

“Eu tinha um companheiro por nome de Ferreirinha, nós lidava com boiada desde nós dois rapazinhos. Fomos buscar um boi brabo no Campo do Espraiadinho, era 28 quilômetros da cidade de Varginha.” FERREIRINHA, de Carreirinho

Aboios, cantos, toques e berrantes

Latindo, os cães cercam os ruminantes

Tocando gyr, guzerás e junqueiros

Para os currais previamente cercados

Junto aos zebus e outros arribados

No chão batido pelos curraleiros

“Eu vim de longe, bem prá lá daquela serra que fica adonde as vista não pode alcançá, ricumendado dos vaquêro de minha terra pra nessas banda eles nóis representá, alas que viemo em dois, eu e mais Ventania, o mais famado dos cavalo do lugá...”

CANTIGA DO BOI ENCANTADO, de Elomar

A comitiva é organizada

Gado de solta, gado de arribada

Gado pé duro e de cabeceira

Mais comissário, peões e o ponteiro

Capataz, arrivista e cozinheiro

Todos à espera da marcha estradeira.

“Nossa viagem não é ligeira ninguém tem pressa de chegar

A nossa estrada é boiadeira não interessa onde vai dar

Onde a Comitiva Esperança chega já começa a festança

Através do Rio Negro, Nhecolândia e Paiaguás..."

COMITIVA ESPERANÇA, de Almir Sater e Renato Teixeira

No chão coberto de mijos e estercos

Ronda o peão nos largos e nos cercos

Do embornal tira fumo e cachaça

Que oferece ao companheiro de lida

Conhecedor das coisas desta vida

Aceita um gole e infiltra-se na massa.

"Bota de couro surrada, cheiro de boi ou viola

Sonhos guardados na mente com lábios de doce melaço

Pra todo canto que eu fosse vivendo da cantoria

Muito mais que dinheiro buscava farra e folia..."

ESTRADEIRO, de Almir Sater

Lá na janela uma bela morena

Levanta a mão trêmula e acena

O coração doído e apertado

Já com saudade antes da partida

Numa agonia forte e dolorida

Como animal do ninho separado.

“Gente da nossa estampa não pede juras nem faz, ama passa

E não demonstra sua guerra, sua paz. Quando o galo me chamou

Parti sem olhar pra trás porque morena eu sabia de olhasse não

Não conseguia sair dali nunca mais...”

BOCA DA NOITE, de Paulo Vanzolini e Toquinho

Porteira aberta partem pra saída

Todos andando numa só batida

Numa só marcha, boiada e boiadeiro

Cantos, aboios, berros e mugidos

Bois, cavalos e peões destemidos

Numa só massa, num só corpo inteiro.

“Com vinte anos eu parti, fui na comitiva de um tal Inácio, senti um nó me apertar a garganta quando meu pai me deu um abraço. Meu filho Deus lhe acompanhe, são esses os votos que eu te faço e como prêmio ao seu talento lhe presenteio com este meu laço..."

BOIADEIRO PUNHO DE AÇO, de Teddy Vieira

Descendo pegam a boca da estrada

Deixam fazenda, mulher, namorada

Trazem viola, café e bagaceira

Redes e mantas, capas, cachecol

Linguiça, frutas e carne de sol

Ao som da moda de Teddy Vieira.

"Eu venho vindo de uma querência distante

Sou um boiadeiro errante que nasceu naquela serra

O meu cavalo corre mais que o pensamento

Ele vem num passo lento por que ninguém me espera...”

BOIADEIRO ERRANTE, de Teddy Vieira

Vaqueiros, garrotes e bois de cortes

No pó das estradas do sul e do norte

Avançam ao coração do sertão

Lembrando dos amores que ficaram

Das canções e modas que os marcaram

Cantando, vão cortando o estradão

"Num bar de Ribeirão Preto eu vi com meus olhos esta passagem

Quando champanha corria à rodo nas altas rodas da grã-finagem

Nisso chegou um peão trazendo na testa o pó da viagem

Pro garçom ele pediu uma pinga que era pra rebater a friagem..."

O REI DO GADO, de Teddy Vieira

A boiada se comprime e se espalha

Pelo centro e laterais da malha

Bois bufando, mugindo e lamentando

Sob o calor do sol inclemente

Procurando espaço rudemente

E as canções no ar vão se espalhando.

"Corre um boato aqui donde eu moro

Que as mágoas que eu choro são mal ponteadas

E no capim mascado do meu boi

A baba sempre foi santa e purificada..."

VIDE VIDA MARVADA, de Rolando Boldrin

Depois de dias chegam ao destino

Faz-se a entrega do gado bovino

E acaba assim a longa caminhada.

Resolvido todos os empecilhos

Agora é voltar, beijar os filhos

E fazer amor com a mulher a amada.

“Fiz uma casinha branca lá no pé da serra pra nós dois morar

Fica perto da barranca do Rio Paraná

O lugar é uma beleza eu tenho certeza você vai gostar

Bem ao lado da janela fiz uma capela pra nós dois rezar

Quando for dia de festa você veste o seu vestido de algodão

Quebro o meu chapéu na testa para arrematar as prendas do leilão

Satisfeito vou levar você de braço dado atrás da procissão

Vou com meu terno listado uma flor do lado e meu chapéu na mão.”

LÁ NO PÉ DA SERRA, de Elpídio dos Santos

JotaCF
Enviado por JotaCF em 28/03/2015
Reeditado em 05/12/2015
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