Anjo da Guarda.

- Ei você!
- Eu? Responde ela com os olhos marejados.
- Sim, tem mais alguém aqui?
- Na... não, responde olhando ao redor, expressão de desamparo.
- Que foi desta vez, já não estás meio grandinha para lamentações inúteis?
- Você também não me ajuda, responde a mulher fazendo beicinho de chorar.
Mentalmente ele fica irritado, mas caramba! É a única mulher desta idade que faz beicinho e fica inume ao ridículo.
- Tá ok, vou tentar amenizar pra ti, mas é só desta vez hein? Pode ir anotando aí.
- Fala logo, responde ela já começando a ficar braba com ele.
- Eu sei que estás de novo pensando nas oportunidades que perdeste na vida por ser quem tu és.
- Tô e daí? Responde desafiadora.
Ele suspira. A mistura de desalento com briga é explosiva, quem perde é ela sempre, mas quando ela vai acordar?
- Vou te dizer pela última vez: quando tu estavas distraída do mundo, é porque estavas voltada pra dentro de ti.
E até isso é importante, no fundo você não perdeu nada, você estava se construindo, alheia ao que poderiam pensar de ti.
- Entendeu agora ou preciso desenhar?
- Me dá um tempo? Suplica com olhar triste.
- Mas é a última vez, depois desisto, aí é tudo contigo mesma.
- Ok, responde aliviada.
- Então tá, vou indo.
-Tu não vai me deixar nunca?
- Ele tira o casaco e deixa as asas soltas. Suspira. Ser anjo da guarda dá trabalho.
Jeanne Geyer
Enviado por Jeanne Geyer em 22/12/2020
Código do texto: T7141844
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.