VIGÍLIA

Ladram, lá fora,

perdidos no esplendor mudo das rosas,

os galgos - animistas do luar...-

Há um piano gemendo na penumbra

e, sobre a mesa de desenho fino,

um livro de poemas, a sonhar...

Ouço a voz do jardim... cismo... divago...

incorpora-se em mim, celestialmente,

a ternura vidente, luminosa,

deum Cristo branco, leve, sonhador...

E analiso o meu drama de homem triste...

E entro na engrenagem torturante

do que vi... do que sei... do que senti:

uma criança humilde, uns tamanquinhos..

artistas pobres namorando rosas,

pintando rosas, sem chegar ao fim...

a tosse de uma loura mulher magra...

um esquife... uma risada... um bandolim...

Ladram, lá fora,

perdidos no esplendor mudo das rosas,

os galgos - animistas do luar...-.

Julio Sayão
Enviado por Julio Sayão em 17/01/2006
Reeditado em 25/01/2006
Código do texto: T100079