SONHOS...

Hoje ouvi uma voz descomhecida

e logo soube que era a tua voz!...

Tuas palavras, nos ouvidos meus,

soavam como sinos de capela,

na tarde calma e triste do verão.

Eram murmúrios de um regato humilde,

cristalino e sereno, a sussurrar

nas pedras, a canção do bem querer.

Eram gorgeios de mil passarinhos,

no amanhecer molhado e luminoso

de um dia claro e outonal de abril...

Trazendo, na memória a tua voz,

recolhi-me na minha solidão

e deixei-me somhar...

Vi, num jardim florido, um colibri

dando beijos ardentes numa rosa...

Vinha adejando, tímido, mimoso,

e beijava e fugia...

e voltava a beijar...

E a rosa rindo, linda, indiferente,

corada de pudor...(ou de desejo)...

deixava-se beijar!...

Ardente, eu desejei, no fundo d'alma,

poder sugar, também, num longo beijo,

o néctar dos teus lábios...

E do sonho acordei,

sentindo, em minha boca, o ""doce-amargo"

do beijo que não dei.

Julio Sayão
Enviado por Julio Sayão em 17/01/2006
Reeditado em 24/05/2006
Código do texto: T100085