SONHOS...
Hoje ouvi uma voz descomhecida
e logo soube que era a tua voz!...
Tuas palavras, nos ouvidos meus,
soavam como sinos de capela,
na tarde calma e triste do verão.
Eram murmúrios de um regato humilde,
cristalino e sereno, a sussurrar
nas pedras, a canção do bem querer.
Eram gorgeios de mil passarinhos,
no amanhecer molhado e luminoso
de um dia claro e outonal de abril...
Trazendo, na memória a tua voz,
recolhi-me na minha solidão
e deixei-me somhar...
Vi, num jardim florido, um colibri
dando beijos ardentes numa rosa...
Vinha adejando, tímido, mimoso,
e beijava e fugia...
e voltava a beijar...
E a rosa rindo, linda, indiferente,
corada de pudor...(ou de desejo)...
deixava-se beijar!...
Ardente, eu desejei, no fundo d'alma,
poder sugar, também, num longo beijo,
o néctar dos teus lábios...
E do sonho acordei,
sentindo, em minha boca, o ""doce-amargo"
do beijo que não dei.