HAGADÁ

HAGADÁ

Alço vôo,

Entrego-me à minha imaginação.

Sobrevôo,

Empurra-me ao profundo!

Entrego-me às minhas fantasias,

Ao abismo, mundo sem fundo,

A coragem como guia,

O vigoroso vôo da águia,

Vôo gozozo,

Entrego-me a todas minhas loucuras...

Alturas,

Vôo acima, e sorvo o gosto azul das cordilheiras,

Vôo abaixo, e sorvo o gosto verde dos vales.

Pairo sobre os mares,

O rutilante raio de sol colide com partículas d’água da chuva,

Uma esplendorosa espuma de diamantes,

Pássaro judeu errante,

Todas essas coisas agora posso ver,

Tudo isso um momento contém,

Eu, sem vintém, um pássaro lebonáh,

Sobrevôo vilas, aldeias, cidades;

Lá, a multidão calada, é procissão:

“Omne ignotum pro magnífico est”.

E meus olhos se abrem para o que tudo alcança:

Os quatro pontos cardeais,

As quatro estações pontuais,

Tudo é mágico,

Enigmático, sem-fim...

“Com latim, rocim e florim,

Andarás mandarim.”

Mudo, penso em tudo nada nado nascido Schawirin,

Tempo ido,

Trágica Noite dos Cristais,

Ancestrais judeus errantes, Sefardita, Purim!

Eremita Schawirin...

Homem-pássaro, Tio Iwan, Filho da Estrela, Asquenazim,

A face de Verônica,

A claridade dos anjos,

O hálito de D’us,

Midrashim e o céu de Eretz-Israel,

Luz!

A esperança irromperá,

Eis, enfim, minha breve Hagadá.

PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS

Campinas, é outono de 2008.