Sem Título I

Difícil é ser poeta de si mesmo.

Posso com tranqüilidade, contar o mundo, enumerar mazelas e julgar misérias.

Isso não passa da vaga condição de existência em que me exilei sem fechar os olhos.

Agonizante é vestir as dores da terra, enquanto me dispo de mim.

Esse asfalto quente que me crava no rosto traços sem reboque. Há de chegar a velhice? Tempo.

Esse céu concreto que me prende ao chão. Tempo.

Toda essa falta de praticidade com a vida. Há tempos.

O tempo... me vira ao avesso

Meu relógio marca minutos que ainda não vivi,

Outros que me fiz esquecer.

O peito reclama saudades de quem já não volta,

De quem nunca chegou.

Mas, não chorarei saudades

Está é companheira.

Esse meu silêncio sem fim, não é nada mais que a vontade de dizer-te tudo, nada.

E se existe alguma crença que faça sentido, perdoe minha esperança em ti.

Releve. Me leve.

O horizonte consola as almas esperançosas.

Esse tempo de espera...desespero.

O mundo é doente... e nele fomos jogados sem bula.

E o máximo que posso fazer é uma prece

Para que sem armas me acalme o espírito.

E que essa revolta que me rege seja passageira, mas que para está exista solução.

Que toda essa minha ausência assimilada, seja cheia de ti em mim.

Que essa espera não doa mais que o suficiente.

E se um dia essa minha utopia de poder continuar, cair por terra,

Que não seja a única a me sustentar.

Que eu perca o fôlego, ( Porque as vezes é bom),

Mas não me sinta asfixiada.

Que a força da idade venha,

Sutil, amenizar essa impaciência e angustia que por vezes aprisiona-me a fé.

Que a força do trabalho não seja a salvação mundana,

Mas seja o colorido desse asfalto cinza.

Que não tenhamos medo, nem motivos para fugir.

E digo tudo isso, porque os dias tem solução.

Agora vem, me de a mão, vamos cantar ao mundo.

Rafaela Rezende
Enviado por Rafaela Rezende em 28/05/2008
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