Blues cíclico
As músicas que fiz pra elas
tornaram-se obsoletas,
as letras e as bucetas
foram-se com o luar
e deixaram o céu sol ressaca,
o claro dia mordaça,
mas a noite retornará.
As juras que fiz pra mim,
as juras que prometi cruzando os dedos
quebraram feito catarro,
sublimaram tal qual perfume,
cortaram-me com duplo gume
e sangraram minha jugular.
As músicas que fiz pra elas,
as trilhas de minhas novelas
são vias de minhas favelas.
A verde-rosa mangueira
não ganha mais carnaval.
Mengo é maracanaço,
anomalia de tempo espaço,
minha música atonal é blues não é metal.
Dessaforma,
hoje, ontem e doravante,
mesmo sombrio futuro,
ainda sendo olhar vesgo,
incerto palpite miocárdio andante,
mesmo estrábico semblante,
pensarei um primeiro tesudo verso,
um segundo insano de rabisco rápido
com terceiro instante eriçado áspero.
impressionarei o papel,
gozarei aos montes mas serei forte
significar-te-ei múltiplos sentidos de grande porte:
o orgasmo rubro, a tinta molhada,
a ereta caneta a glosar o mote.