Blues cíclico

As músicas que fiz pra elas

tornaram-se obsoletas,

as letras e as bucetas

foram-se com o luar

e deixaram o céu sol ressaca,

o claro dia mordaça,

mas a noite retornará.

As juras que fiz pra mim,

as juras que prometi cruzando os dedos

quebraram feito catarro,

sublimaram tal qual perfume,

cortaram-me com duplo gume

e sangraram minha jugular.

As músicas que fiz pra elas,

as trilhas de minhas novelas

são vias de minhas favelas.

A verde-rosa mangueira

não ganha mais carnaval.

Mengo é maracanaço,

anomalia de tempo espaço,

minha música atonal é blues não é metal.

Dessaforma,

hoje, ontem e doravante,

mesmo sombrio futuro,

ainda sendo olhar vesgo,

incerto palpite miocárdio andante,

mesmo estrábico semblante,

pensarei um primeiro tesudo verso,

um segundo insano de rabisco rápido

com terceiro instante eriçado áspero.

impressionarei o papel,

gozarei aos montes mas serei forte

significar-te-ei múltiplos sentidos de grande porte:

o orgasmo rubro, a tinta molhada,

a ereta caneta a glosar o mote.

renato barros
Enviado por renato barros em 30/05/2008
Reeditado em 14/10/2008
Código do texto: T1012296
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