SER OU NÃO SER?

SER OU NÃO SER?

Lágrimas nos olhos, saudades

de Raul, de Raulzito

e então

já não temos quem fale

dos nossos sonhos

e ironize nossas queixas.

Apesar de toda voz, de toda luz

de todo o sangue e toda a pele

não, eu não queria ser Cássia Eller

eu queria ser Raul Seixas.

Eu queria ser vampiro

de Curitiba ou Salvador

curtir a minha dor no escuro

voar nas trevas e me esconder do espelho

(sou Narciso, se me vejo)

- eu não queria nem saber

o nome do meu editor -

ficar acordado à noite

e só dormir, depois do amor,

pela manhã

me esconder de todos

para ser quem sou

eu queria, mesmo, era ser Dalton Trevisan

Ou, quem sabe,

chutar de vez essa porra de poesia

que não dá camisa, nem garantia

Pra que literatura

se nem a mulher me atura

quanto venho com essas algaravias?

Meu minuto de fama,

era tudo o que eu queria

ser sucesso por um dia na cultura one-way

e depois, não sei;

esquecer a língua-pátria

frátria, fratricida

raspar os cabelos e tomar um vermicida

fugir pra Guarujá, pra Paquetá, pra Bagdá

pegar uma passagem só de ida

pra qualquer lugar.

Eu queria mesmo, mesmo, mesmo

era ser Raduan Nassar...

4/6/2004