Tempestade

A tempestade brinca numa ciranda

Tendo como parceiro o vento arredio

Joga as folhas das árvores num rodopio

Rodopiando minha cabeça de encontro ao esmeril

Meu pensamento entra na dança

Vai e vem sem forma nem esperança

Lava a minha cara com jatos feitos de lança

Abre o meu peito de onde a dor não se arranca

Mendigo de ilusões sem arbítrio

Vago nessa vida sem sal ou tino

Seguro com força o cordão do umbigo

Num afã de saber qual é o meu destino

Estrangeiro da carne podre sem valia

Parasita na Terra de tez doentia

Infestada de guerras noite e dia

Contra-senso humano toda a fadiga

Ressurgir noutro mundo é o meu plano

Libertar-me da carne sem engano

Suspirar de prazer liberto do insano

Contemplar o amor superando o mundano.