MELANCOLIA (4)

LEMBRANÇA DE UM PLANETA

Quando sorrir, não perceba

que pela vida passou uma lástima.

Por rimas e rimas,

não se encontrou a vitória do poeta.

Somente a história dos mais tristes

tamborilava na janela.

É ela, a vida, a responsável por este risco de morte.

E o desespero sempre arruma suas malas

junto com minha viagem.

Viagem esta que é puro cansaço

no infinito dos mais tristes,

em lágrimas justificados.

Quando passo pelas ruas

e vejo casas,

vejo as casas de crueza, de uma civilização silenciosa e alienada.

E o canivete de quem me espera na esquina não tem mais dono,

de tanta carne a desafiar.

Encadeia-se a trama dos sanguinários que estão prestes

a explodir seus próprios retratos,

e a lembrança da ponte da vida,

com seu arco-íris, fica obscurecida.

É a lembrança desta época que me paralisa.

Desliza pela pele

a saudade sem caminhos, sem portas, sem magnetismos.

Uma lembrança misturada a uma espuma negra,

radiante de violência, sem lugar e sem hora

para acontecer -

como um desastre nas estradas do horizonte.

O ontem e sua lembrança misturados à espuma negra do planeta

da monotonia ou da violência,

das saudades sem caminhos...

COMETA BRILHANTE

Luz cristalizada na busca do sonho.

Cometa brilhante vingando

as pupilas dos meus olhos.

Vingando este brilho

amargo,

que tanto se resume.

Cometa brilhante feito anjo da guarda,

criando nos braços

a infância da luz

que mais quer voar...

Cometa brilhante

passando atrás da luz!

Será que fui só eu que vi?

Passando em pleno silêncio e

iluminando minha alma,

e que tanto embeleza a inspiração de vida

de quem o vê.

Cometa brilhante,

tão perto estarei dessas luzes

quando em meu peito se fincarem as cruzes.

Tão perto estará da minha vista,

quando eu desejar ser artista.

Cometa, sim, cometa este ato de luzes,

com minha meta, sim,

jamais serei vazio.

Seremos... seremos, sempre, repletos de luzes,

cometa seremos, com meta seremos,

cometa, sim, lua, sim,

vinga esta contemplação, vinga este sentimento.

Dê este puro acalanto, porque o mundo é amargo,

é frio e precisamos de um manto.

Cometa brilhante,

com meta brilhante,

tão perto estarei dessas luzes

e no peito não se estabelecerão mais as cruzes...

FERNANDO MEDEIROS

verão de 2006