BRISA

O corpo quente,
queimado sente...

Pela brisa da noite afagado,
clamado, envolvido, consente.
Em volumptuoso abandono
te deseja,
Se sacode.

Serás tu vento,
o que faz fremer
o corpo suavizado
que uso sem prazer?
Que pões lágrimas nestes olhos
que olham sem ver?

Vento doce, brisa quente,
que me alerta,
continua tua desinibida busca,
de mil mãos em descoberta,
iguais a essas da lembrança,
que anunciam as da esperança.

Mas vento...
esta carne não arrefeces,
nem o sangue acalmas;
não vibro, nem tremo.
Não tens lábios,
não posso descobrir
ou acariciar
as marcas de teus passos.
Não me podes dizer
os obeliscos
que serpenteias;
nem as florestas que aumentas,
nem as ondas que cavas
em orgânicos abismos;
nem quais os cumes
cósmicos e pacíficos,
onde tudo começa.

Brisa...
lembrança e prelúdio.
Não mais saudade do passado
que fechou comportas,
mas do futuro a descobrir.

Em tuas mil vozes
és, afinal
como o meu dormir,
trazendo tigres vorazes
que me comem sem dó
e que anseio o rugir.

Mas vento...
és pó… ilusão,
não me atravessas
noutra dimensão
de almas acesas.
Só tens desejo
Não podendo entender
Este meu ensejo.

Meu fogo jamais podes apagar,
sou chama feita de mar.
Rosa DeSouza
Enviado por Rosa DeSouza em 03/06/2008
Reeditado em 21/08/2008
Código do texto: T1017323