FLAUTA
FLAUTA
Um canto de flauta um coração acalma
na noite desgostosa de minha alma.
A música é triste
e as colinas distantes.
Uma garoa coruscante
desce sobre a madrugada de todos nós.
E um canto de flauta
se ouve no ar.
Não se sabe se é Deus
que quer me esperançar
ou será satanás
que quer me matar.
É um canto triste: este da flauta,
é um trágico poema sobre a pauta,
é um grito de revolta no bacanal,
é uma morte em pleno carnaval.
Mas é uma música linda de flauta
que, tão logo me assalta,
leva os encantos de mim.
Talvez seja um anjo ruim
que me faça lembrar das desgraças
e perder a fé em todas as graças.
É o canto rude da flauta,
do inferno, da voz mais alta
que brada toda a tristeza.
O fim da encruzilhada, o ponto de chegada.
Um canto penoso de flauta
dos meus nervos salta,
é o canto da súplica,
a música recalcada
com o mundo, com o fundo de nosso abismo,
de nosso egoísmo...
FERNANDO MEDEIROS
Campinas, é outono de 2008.