ESTE CANTO (1)

ESTE CANTO

Numa rua velha, repleta de árvores frondosas,

como as saudosas ruas de nossa infância,

nascia meu inexaurível canto poético.

Vinha, talvez, retratar os dramas da vida,

bem como os instantes de deliciosa paz.

Vinha, também, qual uma revolta justa,

e com um brando voar de pássaro eterno.

Nascia meu canto, que seria um dos remédios mais importantes

para o sentido de vida do meu espírito atormentado.

Ele iria fluir a amargura de meus olhos

com seu doce aroma de poesia.

Que bons atalhos esta arte pode me fazer percorrer, sereno...

Para isso, valerá a minha força, a minha determinação, pois este será o caminho... artista será meu objetivo almejado,

em meio a todas as etapas do meu espírito.

Neste canto trarei tudo o quanto sinto,

humildemente condenando os erros humanos,

mas jamais me entregando aos pântanos pessimistas,

porém, guardando esperanças aos seres humanos, pensando que, talvez,

um dia, entre as ramagens, todos encontrarão o sorriso verdadeiro.

Meu canto não se submeterá à alienação, pois trará a realidade

em seu transbordante mar de letras e de canções plangentes.

Sobreviver a tudo! inspiradora lira...

Traga a humanidade dos lírios a sustentar campos indivisíveis.

Traga a felicidade do pão a sustentar o trabalhador exausto,

pois nasceu meu canto um dia

e será ele inexaurível para o meu lápis;

cantará a todos os oprimidos,

ele sobreviverá a colorir a vida e as sensibilidades

e, com o sentimento cristalizado,

vislumbrará o panorama da nova futura vida.

Numa rua velha, de árvores frondosas,

como as saudosas ruas de minha infância,

eu pude sentir o canto, elevando-se

qual mãos de trabalhador errante quando tocam o alimento

e empunham ferramentas.

Os alimentos e suas ferramentas

que serão a garantia de vida para seus filhos.

Os alimentos e as ferramentas que, para mim, são os meus cantos;

o sustento do canto que eu sorvo.

Meu canto é o ar que respiro.

FERNANDO MEDEIROS

verão de 2006