Tempo Amargo
Tudo bem, tudo bem...
Nossas meninas estão virando prostitutas nos cantos da cidade;
Nossos meninos estão se tornado traficantes,
Ladrões, bárbaros e assaltantes em qualquer idade.
As famílias encolhidas em suas hipocrisias
Rezam nas igrejas, trocam de religião para não mais pecar;
O Estado perdido na corrupção de suas mãos não sabe mais o seu lugar;
O povo na sociedade está confuso,
Vive na miséria calado, nem sabe se pode gritar.
Todos vão a algum lugar,
Mas na sabem ao certo se vão voltar.
Em casa, sob grades e cão de guarda.
Olham ao redor sem poder sair para se distrair,
Ouvem músicas de consumir,
Usam roupas caras, acessórios de brilhos.
Assentam diante de uma mesa farta e
Diante do espelho mágico sonham com carros esportes,
Com bebidas, mulheres, futebol e cigarros.
Pouco importa quem amanhã vai ter que morrer,
Só interessa viver e seguir.
Em quem acreditar não precisa,
Pois que em si não mais acredita.
Já não é interessante a política;
Pouco importa quem é vítima.
Quem paga essa farra,
Quem consome e quem narra não interessa.
O importante é que o país fique as avessas;
O importante é que do carnaval
Todas as dores passam para o natal.
Não temos mais lembranças,
Não temos mais escolas,
Não temos mais segurança
E o nosso voto usamos de escambo a quem nos ofertar maior valor.
Não sabemos e nem queremos mais nos responsabilizar
Da boca da alma versamos, que o país não é nosso, é de qualquer governo.
Permitimos-nos negar os direitos,
Permitimos-nos negar os deveres,
Nos permitimos pensar em proteger nossa casa do instante,
Do que morrer por uma causa de todos.
Dia-a-dia nossas forças vão se exaurindo e
Permitimos-nos rir ou chorar
Sendo vencidos tolerantemente por essa guerra urbana.
Guerra que não cansa de nascer;
Pela força de nossa ignorância.
Que não cansa de morrer,
Pela força de nossa tolerância
Guerra que não cansa de matar o nosso respeito próprio,
A nossa ética, a nossa sensibilidade humana.
Em luto tantos discursos fazem par com a liberdade prisioneira.
Escrevendo na campa do tempo que em vão foi a inconfidência mineira;
Que em vão foi a luta no Araguaia.
Em meio pau, de tanta vergonha, já sem razão de ser,
Melancólica descansa insana a nossa bandeira, sobre essa,
Cidadania, enfim, sepultada na carta magna, que muitos de nós sequer ler.