O VERSO DA NOITE

Frívolo cantador de suores distantes,

desvendo o que refuga num poema arrepanhado.

Ante a flor de pétalas dissonantes,

se cismo, retiro do pulsar um abismo

de estupor da angústia ávida pelo fado.

Um salto em torno da vaga

por mais alto a paliçada da trajetória aflita,

cumpro e excluo da madrugada

o calor de que não sei se desdita

e encaro na natureza da dor do nada

que dentro de mim se agita.

É quando um verso que não morre alteia o que está imerso,

e na cisão da falsa teia, salta e à pena ensina:

tudo isso que escorre é o viver da noite finita,

que me abrange como um lago que socorre

e o se enfeixar com o alvorecer, se jardina.

E como espectro de mera fita,

declina.

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ALFREDO ROSSETTI
Enviado por ALFREDO ROSSETTI em 24/01/2006
Código do texto: T103373