CENTRO OESTE

O coração lateja indolente e veloz

contradição de gente e gestos

jeito faceiro de acomodar a raça

no reino de pindorama

entre Macunaímas desvairadas

¬e o drama de machados e índios

caboclos e moto-serras

bandeiras, posseiros

e o domínio das terras

Memória viva da nação ancestral

caminhos entrecruzados

tecendo o véu dos atalhos

e os passos repisados

nas sombras e nas claridades

traços e tranças na dança

da gente que se apossa e roça

e salta e se aglutina

filha de si mesma

e dos seus destinos

Enquanto tudo se afina

na orquestra dos zumbidos

mariposas e pirilampos

sapos, libélulas e ruídos

rasgando a solidão

sibilam recursos

no curso dos rios

riscando o solo

e a solução

Contradições e fumaça

matas desmatadas

e a fuga das maritacas

enquanto somem desmontados

aos montes pedras moídas

nas lavras de ouro

o touro no pasto repousa

até sobrar nada

dos restos de garimpeiros

suados ao sol do sertão

doce de mel jataí

de gosto de açafrão e pequi

Gosto de pecado e ousadia

cheiro de suor e urucum

araras em vôo suspenso

penas e cenas de sol

em contra-senso

entre o lírico e o proseado

o rústico e o sublime

o intrépido e o temeroso

de todos os modos o cerrado

suporta a realidade intransitiva

do participar imperfeito

da gente que sem respeito

co'a vida improvisa

o domínio intransigente

e desleal de apossar-se da terra

sem perceber o solo sagrado

da "Nação Inca-Tupi"...