De poesia e de papel

Na folha parda eu faço um traço, na vida dou mais um passo...

No papel eu amo à toa, na vida amo paredes e masmorras...

Da dobra eu faço um barquinho, o barquinho no sonho navega

Na vida eu não faço nada senão senões e à deriva trafego...

Entre papel e vida, lápis e poeta se misturam e se consomem

Do nada surge um arrebol, que depois é fraco, o escuro quarto...

Às vezes imagens vêm, a folha sobre o criado, o lápis guardado

A alma ri e chora, punhal no peito, de poeta e de angústia....

O barquinho deslizando oceano abaixo, o sonho se esvaindo

Os senões surgindo, mais não do que sim, tateando sigo na escuridão!

Ouço paredes e vejo zumbidos, apago as frestas da porta

Estragos que fiz, entornados todos, janela abaixo...

E se sozinho me entrego ao sono que me distrai o sonho

Logo vem o pranto e desmancha o traço que surgiu no passo

E claro fica, e noite fica, e o dia que não vem, o punhal singrando...

Vida redesenha o coração amedrontado que não mais chora....

Se das negras nuvens não emana a chuva que seca a sede

Da penumbra se batem paredes e sonhos, janelas e amanheceres...

Dia vem, quanto desejo que amanheça um dia que seja!

Ter a luz do sol flamejando o calor que de mim não se aquieta...

Como preciso que essa noite passe ou que eu durma ou desfaleça

E o barquinho não se derreta neste oceano intenso e implacável

E o traço supere esse frio que me abraça e essa noite que não passa...

De falsos arrebóis, poesia e céu sem estrelas e de vida em vão...

Nalva
Enviado por Nalva em 18/06/2008
Reeditado em 18/06/2008
Código do texto: T1040467
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