Laços da vida

Há laços que prendem,
que não nos deixam ir,
que nos obrigam a voltar,
para onde não queremos.
Perduram o passado triste,
prolongando o sofrimento,
cauterizando feridas,
comprometendo futuros de felicidade,
tornando tedioso o presente.
Laços que já não laços.
Simples nós difíceis de desatar.
Vou fechar meus olhos.
Quem sabe, a escuridão da noite
ilumine os meus pensamentos.
Uma atitude, apenas uma atitude
pode mudar meu rumo,
minha vida.
Há laços que prendem
em nome do amor.
Não existe amor
se não há liberdade.
Sempre existe culpa
enquanto houver um acusador.
Há laços que prendem
como a frágil corda
que mantém o elefante preso
ao tamborete no picadeiro.
Fomentam a tristeza,
sobejando a mágoa
que cresce aos poucos
como uma enorme massa de algodão doce.
Doces momentos passam.
Vividos, são como um oásis
num deserto de solidão.
Laços que nos tiram a visão,
impedindo-nos de ver
o início e o fim do deserto,
de dar um passo a frente,
de levantar os pés do lugar.
Laços que prendem
são algemas invisíveis
de quem ignora a fragilidade do laço.
Laço apertado traz desconforto.
Laço afrouxado gera insegurança.
Laço é apenas um nó
que se desfaz no momento desejado.
Laços existem
para enfeitar um presente,
para amarrar um fortuna,
para trazer uma lembrança
para estreitar uma amizade
para juntar duas ou mais coisas...
Laços podem ferir.
Laços podem curar.
Laços podem ser temporários.
Laços podem ser eternos.
Laços podem ter defeitos.
Laços podem ser desfeitos.
Laços podem ser refeitos...
Na vida, estamos presos por muitos laços.
Laços de família,
laços de amizade,
laços profissionais,
laços ocupacionais,
laços de amor...
Há quem busque o amor livre.
Mas o próprio amor é um laço.
É possível se libertar de laços da vida.
Porém, é impossível deixar um laço
sem magoar,
sem se machucar,
sem deixar saudade,
sem deixar seqüelas,
sem cair num outro laço.

Há laços que prendem.
Não há motivos para sair.
Há muitas razões para voltar.
Neste laço, tudo o que queremos
é esquecer o passado triste,
evitando novos sofrimentos,
cicatrizando feridas,
construindo futuros de felicidade,
tornando prazeroso o presente.
Laços que já não são laços.
Simples nós que não desejamos desatar.
Vou fechar meus olhos
para iluminar a minha noite.
Há uma razão, uma única razão
para mudar meu rumo,
minha vida?  

 
  
Este texto faz parte da coletânea Alma Nua de Ivo Crifar, pela editora Baraúna.