A Casa

Se amanhã não for melhor que agora não teremos nem o hoje.

Olhamos pela janela jogando tudo fora, vemos as luzes em cores, como se a chuva fosse o sol, como se a noite fosse o dia, como se a dor fosse um beijo de Maria... E até seria se não fosse um eterno colo para os desesperados.

E sob o veio do lixo, da indiferença ou dos maus tratos, ou da incivilidade seguimos o curso das coisas em respeito ao nosso egoísmo, desrespeitando o sonho pela ignorância.

Atentando, insanamente contra a liberdade que nos resta, pelo vício da inércia, pelo comodismo da Pérsia.

Se na escadaria de um banco, no meio de uma praça tem uma família esmolando...

Se numa periferia da cidade alguém é vítima das mazelas do Estado;

Se há alguém reclamando solitário todos se limitam a um trocado,

A um saco de farinha, uma promessa qualquer.

Tem uma família em qualquer lugar...

Comendo insaciavelmente a fome.

São tantos pobres, podres miseráveis sem nome,

Que o país, na sua imensa hipocrisia se incumbe de enterrar.

São os antes da porta, os sem roupa, sem teto, sem escola, sem trabalho...Os sem vida.

E os depois da porta, são os acomodados, os afortunados...

Aqueles cujas portas e janelas, são de ouro ou prata lustrado, são de vidro ou lata, que estão sempre brilhando, mas fechados.

Ao redor de tudo há um imenso muro;

Ao redor há arame farpado; há gente e maus educados.

Se não me engano dentro dos muros há três cães de guarda;

Uma mesa farta; uma televisão para enganar a digestão,

Roupas e sacolas de viagens;

Uns carros de várias marcas;

Uma piscina imensa;

Belas moças e rapazes

Mas não há uma canção,

Ainda assim não há civilização,

Se há perdão para os ignorantes, por que não para os senhores da nação.

Aliás, o ramo da roseira, bem cuidado e viçoso estende o braço para fora, mostra a todos a beleza e a paz da flor sem hora ou educação.

Lá fora, lá onde canta a espreita os desafortunados, os mortos e aqueles desesperados.

Lá fora, lá onde quem canta é a fera da solidão.

Todos morrem,todos morrem,

Todos morrem sem distinção de cores ou raça.

Hoje todos se riem por tudo o que vêem e não podem em sanidade consertar, não há civilizado que queira, que queira mudar.

É tão simples amar...

Talvez por isso não se tenha tanto empenho...

É tão fácil encontrar,

É tão fácil pagar.

Hoje a ordem não cansa de bradar preocupado com o futuro que Estar tomado de ódio, prestes a tomar a força uns trocados e dividir a dor da alma com os que se dizem letrados, porque são muitos os que já preferem olhar o mundo com essa cara de desinteressado.

Engraçado é tão fácil amar.Tão fácil que muitos não sabem...

Talvez por isso as pessoas procurem pecar.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 23/06/2008
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