ESTE CANTO (2)

POMAR DE POEMAS

O pomar das poesias com sua brancura alcança a brancura da nuvem...

E muitas pessoas caminham por este pomar,

caminham vagamente e posso afirmar que, no fundo, são pessoas de bem.

Essas pessoas que gostam de ver a poesia mais expressiva

ainda em forma de algodão.

Neste pomar está a memória de todos os poetas do mundo.

O farfalhar da folhagem talvez guarde em

seu som aqueles que levantaram e alimentaram tantas emoções.

E vão a pessoas se guiando,

quanto que a poesia faz bem aos seus corações,

e assim, em formas de algodão,

misturam-se com a tão linda pintura deste pomar,

que, com seu brando, sabe beijar as nuvens...

Ouço som de vozes... são pessoas que ali estão.

Conversam, estendendo a linguagem para versos em melodias.

Falam disto, disto que é a vida, a vida neste pomar...

Elas caminham encantadas! E perguntam quem plantou este pomar.

Quem plantou? Eu sei que foram muitos sofredores, muitos lutadores

que viram a poesia na vida e no homem a ser desenvolvida.

Os seus suores estão nestas formas de algodão.

E vão as pessoas se guiando, o horizonte avermelhado beija

o brando pomar e este quadro encanta ainda mais as pessoas.

E estes passos lentos, a música destes passos se mistura

com a música dos mais belos versos.

ESTE CANTO (2)

Livre canto, voe no céu pela América do Sul e por todos os continentes,

por todas as nações pobres e oprimidas, nas quais vegetam homens

sofridos e injustiçados.

Livre canto, retrate a amargura,

a corrupção, a competição, a injustiça de meu país,

de meu mundo, contudo, sinta, sempre, a esperança de força devota,

de fé,

e

que o homem corrompido destas terras

seja vencido,

e

que a luz ilumine

o novo povo,

implantando a vida nas flores vivas e celestiais.

Livre canto, eu o incorporei eternamente,

e peço, sobretudo, que suas odes supremas

recolham as raízes férteis da humanidade,

as raízes que erguem o homem às alturas puras e infinitas

da igualdade humilde,

da felicidade de olhos jovens e tranqüilos...

PEITO POETA

Seguindo as florestas obscuras,

encontrei sua face linda;

beijei-a na sombra das madrugadas,

amei-a ao sol das escaladas.

Eu tinha um mundo escondido,

um campo verde e florido

e tudo ofereci ao seu coração.

Eu sei que nossos beijos lutarão

pelo amor e pela fé dos humanos,

para se livrar da dor cruel dos desenganos.

Eu tenho a face conspurcada e sem essência,

porém, meu peito poeta possui adolescência

de tranqüilizar o seu rosto no fervor da agrura.

Seguindo as florestas impuras,

encontrei-a nas flores da quimera,

oferecendo-me sua inocência pura

entre as folhas de minha primavera.

Renasça, agora, o meu coração decaído,

porque eu levantei os alicerces destruídos...

Quanto sofrimento as pessoas me ensinaram

e quantas intrigas me trouxeram.

Por isto, preciso desta sua tranqüilidade,

de seu prazer... da luz perdida de liberdade,

de um canto supremo, em todo limpidez,

do fim do medo, da amarga timidez.

Venha... e ofereça palavras sem pragas,

ofereça algo sem maldição, a juventude!

e as cintilações de todas as cores.

Meu peito de poeta é farto de dores,

mas a sua bondade virá a tempo,

trazendo flores ao maior dos momentos

de uma vida singela,

de um futuro de amores!

E minha força arfante será nosso caminho,

você beijando a secura do meu desânimo e

a oferecer o prazer dentro do mais belo ninho.

Venha acariciar meu humilde peito poeta,

que não possui riquezas, nem vaidades.

Venha, porque sei cantar a mais bela seresta,

a música tranqüila da felicidade.

Seu abraço me livrará de meu medo cimério,

tirará minha alma desse negro cemitério.

Venha... com seu amor cálido para o meu rosto,

Venha... entre as névoas da nova geração,

mas traga a simplicidade e jamais o desgosto

que assassina a tão maravilhosa ilusão.

Beije-me, assim, tranqüilamente,

afague o meu peito poeta machucado,

deixe-me forte para o sempre,

pois, só assim vencerei!

E jamais serei um homem derrotado!

FERNANDO MEDEIROS

verão de 2006