Chaga dos vencidos.

Sob tuas dores o sangue ainda fresco escorre de tuas vísceras,

A noite ainda dorme sobre o teu gemido.

Enquanto tento me consolar, vermes me cobrem na sombra

Alimentando essa mágoa que se estende pela rua.

Mas Deus, sendo justo, dormirá em meu esquecimento.

Ainda sim morrerão, e os morcegos irão cortejando as dores do animo.

Antes fosse real a carnificina.

Mas em vida é sempre tarde demais.

Em blocos humanos, uns sobre os outros,

Cegarão a esperança.

Refugiados em seus abraços fúnebres,

Dormirão todos, vencidos,

Hão de se esfacelar num mar de treva,

Enquanto da sombra hei de ver o vento levá-los em pó da terra,

Caminharei só sob os campos,

Talvez eu descubra alguma beleza mundana,

Ou aprenda a amar com alguma simplicidade,

Mas logo terei de deitar e espreitar minha chaga,

Até que venha o vento me levar.

Rafaela Rezende
Enviado por Rafaela Rezende em 25/06/2008
Reeditado em 29/06/2008
Código do texto: T1050093