O coração é selvagem...

O coração é selvagem

E às vezes dói

Quando os olhos sentem

Sem querer se explicar

Sem sentir angústia

Refrata a lágrima

Cai indolente

Ante os braços cruzados

Na noite que passa

Feito uma sombra do passado

Ao aperto na garganta

Sufoca mais angústias

Sim, serão sempre dores,

Ouvindo o cansaço insolente

Deixando para depois

Sempre depois

Sentindo-se deixado

Sempre de lado

Como se tudo fosse pertinente

Sem poder reclamar

Porque reclamo?

O coração é selvagem, mesmo,

E se não se importar

Tudo ficará bem

Sem ter privilégios

Nem se pode ter realmente

Pois não vai doer tanto

Quando amanhã sorrir de novo

É mais um que passa

Como se passou antes de tudo

Mesmo doendo no fundo

O amargo gosto que sobra

Como se fosse para ser apenas

Mais um que sobra na vida

Mais um que passa batido

Como as batidas do coração

Que ao largo da rua

Contorna a esquina

E desaparece na multidão

Sem olhar para trás

Virando a página seguinte

Já sabendo do fim da história

Sim, pode doer um pouco mais,

O coração é selvagem

E nem sempre é possível saciá-lo a contento

Seja qual for o meu esforço

Seja qual for a minha vontade

Aos olhos vai doer

Mas o dia vai passar

¨E se o medo é o meu inimigo

Ele passará por mim

Olharei para dentro

E apenas virei o caminho

Por onde ele passou

E somente eu ficarei.¨*

*Tirado de “Duna” de Frank Herbert.

Peixão89

Deixas – 1998-2000

Peixão
Enviado por Peixão em 10/04/2005
Reeditado em 24/08/2009
Código do texto: T10671
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