...e os selos foram abertos

...e os selos foram abertos

angélica t. almstadter

01-02-06

por onde me campeia a vida que anseio?

se dentro dessa taça me afronta sem receio,

me fere a boca que reage suculenta

ao som do peito que aos poucos se arrebenta.

por onde me pega essa vida infeliz

que arde e dói como recente cicatriz?

por onde há de entrar essa ingrata

que amacia os sons e cruelmente maltrata?

ah! mísera fonte das minhas alucinações

mentira vistosa, taça de privações!

por onde me pega sem fala

desfilando o provado com gala,

qual gosto doce de fantasioso veneno,

rabiscado para eu crer ainda terreno.

por onde me agita essa incerteza aflita,

que agoniza feito mentira bonita;

deve passear em alguma praia sem graça

rindo da certeza maluca como troféu na praça

erguido sob o aplauso pomposo.

plantado lá atrás quando nem era mentiroso

um prêmio avidamente buscado e conquistado,

hoje, amarelado, duramente castigado

não tem mais orgulho da sua valia

é fora de uso, um quase museu de anomalia.

era ela e eu um dia por pura utopia,

bebendo no mesmo gole de euforia

o banquete dos atrevidos, sem meias verdades;

e quem disse que se constrói sem iniquidades?

nenhum alicerce se levanta para o futuro

sem mentira, sem golpes por trás do muro.

um brinde à conquista do pecado

que mata sem mandar recado!

por onde anda sem mais desvelo

a pouca vida enrolada nesse vil novelo,

que se perde numa multidão consumível

plano roto, praticamente inexequível

que pode ser derramado sem disputa,

numa única e frágil taça de cicuta...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 02/02/2006
Reeditado em 11/11/2014
Código do texto: T107080
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