EU E A SOLIDÃO

Que se vão todos e me deixem com a solidão,
Pois agora tenho no peito somente um velho coração.
Que é mais velho que a alma, pois já não pode mais lutar.
Ir em busca de um caminho que nos leve para amar.
E o infeliz já não pode, não pode os olhos cerrar,
Pois as lágrimas não dormem e teimam em cantar.
E pobre daquele que já não pode sonhar.
Sonhar é para quem pode uma ilusão alimentar.
Quem há de se importar com quem vive triste.
Sei que nem se importam, pois sabem que o amor existe,
Mas que já não vive para me alegrar.
Eu lembro das flores que cingiam os amores,
E tornavam almas mais jovens.
Só que a dor escureceu e de repente anoiteceu.
Nenhum amor vive ao luar, o amor já não sabe amar.
Eu e a solidão e tudo foi em vão.
De nada valeu sofrer, amar ou morrer,
Por luares a muito perdidos.
Arrependimento não, jamais apertarei essa mão.
Mesmo que de nada tenha valido.
O passado se foi, resta a mim o futuro
Que sei também está perdido em um abismo escuro chamado dor.
Já não se pode falar de flores, doces ou amores,
Pois é felicidade e a mim ela não foi apresentada.
Talvez até se afastara para não me abraçar.
Será que até ela tem pena de me ajudar?
Quem sabe o silêncio seja mais confortante
Que uma voz errante que queira me consolar.
O que falta para o infeliz é justamente a ilusão,
Mas ilusão verdadeira que feliz fique o coração.
Com a música que vem de longe cantada pela emoção,
Que chega aos ouvidos e que se esquece da razão.
Tudo agora é como se fosse um passarinho sem sua mãe,
Que já não tem mais carinho e só deseja um pouco desse amor.
Chora alma sofrida, tu que não tem mais sonhos.
Talvez seja hora de ir embora.
Já não existe mais lugar aqui.
Já não existe mais canto, e nem encanto.
O amor que ainda vive a ti não pertence,
Tu já não podes mais cantar aquela tua canção
Que invadia o coração e dava coragem para caminhar,
Para largar toda a razão.
Já não existe mais amor.
Já não existe mais canto.
Não existe emoção e nem encanto.
Eu e a solidão, em busca de emoção.

Eritânia Brunoro
Escrito em 20 de março de 1993.