Pra quê?

Pra quê vou falar de amor

se de todas as formas, os modos,

de amor já se falou?

Mais dia menos dia,

mais cedo ou mais tarde,

em prosa e em poesia,

e com ou sem alarde;

de amores mal sucedidos,

de amores em sucessão,

de sossego e de inferno,

de inverno e de verão.

Pra quê vou falar de amor

se em todas as formas e cores

os amores vêm e vão?

Os carnais e os platônicos,

os abissais e os tectônicos,

os que eram e os que são;

também os amores bonitos,

os que duram uma vida,

e o amor que acabou.

(Falar de amores finitos

todo mundo já falou.)

Pra quê vou falar de amor

se em todos os nossos atos

é só de amor que se fala?

E todo o resto se cala,

se de amor se quer falar.

Mata-se, morre-se, vive-se,

discute-se em mesa de bar.

E se lê, e se escreve,

de amor longo e de breve,

de sofrer e de gozar.

Pra quê vou falar de amor?

Já os li, tantos, escritos,

descritos com precisão

(ou só imaginação...)

Há cérebro de inventar,

há dedos de digitar,

e ainda há coração.

Se o corpo fala, enfim,

é a vez de dar-lhe a voz:

talvez falará por nós,

por certo falará por mim.