REENCONTRO
Ceres Marylise
Não mandem calar minha saudade agora.
Busquei o mundo, passei tanto tempo fora.
Ponham copos nesta mesa abandonada
Onde jogamos cartas e destinos...
Não abram as janelas já tão carcomidas
Pelo tempo passado - pó da vida,
Desta casa que gentil nos abrigou
Em algazarras e momentos bem vividos.
As gavetas devem estar abarrotadas
De tanta coisa inútil e empoeirada:
Poemas murchos, flores ressecadas.
Entristecidas, à espera de algum gesto.
Não acendam a luz, meus pés conhecem
O vício dos degraus, os corredores.
As portas que abrem sempre suas asas
Aos quartos amplos e acolhedores.
Ouço risos de crianças pela sala
Que deslizam no já gasto corrimão
Sobre colchões já velhos, desbotados
Sempre correndo em busca de emoções.
Nas paredes há sombras que estremecem
Com o bater dos corações - velhos rumores
Que um dia preencheram minha infância
E me mostraram um mundo de esperança.
Quero sentar-me no colo da mamãe.
Adormecer com histórias do papai.
E despertar ao som dos passarinhos
Que cantavam saltitantes nos beirais.
Agora parto, saciada de fantasmas...
São eles que abrem a porta do jardim
E ternamente beijam as minhas faces.
Já vou. Já vou. Só vim saber de mim.