REENCONTRO

Ceres Marylise

Não mandem calar minha saudade agora.

Busquei o mundo, passei tanto tempo fora.

Ponham copos nesta mesa abandonada

Onde jogamos cartas e destinos...

Não abram as janelas já tão carcomidas

Pelo tempo passado - pó da vida,

Desta casa que gentil nos abrigou

Em algazarras e momentos bem vividos.

As gavetas devem estar abarrotadas

De tanta coisa inútil e empoeirada:

Poemas murchos, flores ressecadas.

Entristecidas, à espera de algum gesto.

Não acendam a luz, meus pés conhecem

O vício dos degraus, os corredores.

As portas que abrem sempre suas asas

Aos quartos amplos e acolhedores.

Ouço risos de crianças pela sala

Que deslizam no já gasto corrimão

Sobre colchões já velhos, desbotados

Sempre correndo em busca de emoções.

Nas paredes há sombras que estremecem

Com o bater dos corações - velhos rumores

Que um dia preencheram minha infância

E me mostraram um mundo de esperança.

Quero sentar-me no colo da mamãe.

Adormecer com histórias do papai.

E despertar ao som dos passarinhos

Que cantavam saltitantes nos beirais.

Agora parto, saciada de fantasmas...

São eles que abrem a porta do jardim

E ternamente beijam as minhas faces.

Já vou. Já vou. Só vim saber de mim.

Ceres Marylise
Enviado por Ceres Marylise em 04/02/2006
Código do texto: T108020