Rotina

Alarmes em pânico, relógios, buzina!

Rotina, rotina, rotina:

É o palco que vejo com abrir a cortina.

Nada de vedetes, confetes, serpentinas.

Apenas bocas bocejando as seis da matina.

Rotina, rotina, rotina:

Nenhum sabiá na varanda, canção que me exila.

O sol que me aquece já não me ilumina.

Palmeiras ao longe me cansam a retina.

Nenhum cavalo verde a me dobrar na esquina.

Até mulher gostosa a paisagem me sovina.

Pára de fazer barulho aí em cima!

Diabos de prestação; tanta conta que me desanima!

Queria fazer um poema - mas que saco! – não mudo de rima!

Ando aflito, procuro no mundo a minha sina.

Já me cansei das carícias do cigarro,

dos apelos nervosos da nicotina.

Procuro algo novo: disco voador, louca bailarina, poeta que canta

[mas não desafina.

Qualquer coisa que não seja o velho açoite, a mesma guilhotina,

o mesmo abate diário que me desatina.

Qualquer coisa que não seja o relógio que azucrina,

Qualquer coisa que não seja o barulho do andar lá de cima!

Qualquer coisa, qualquer coisa que não rime com rotina!

Escancaro minhas janelas, reinvento minha sina,

E grito a essa que me disciplina:

- Rotina, Rotina, Rotina,

Vai ver se me encontra lá na esquina!

Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 20/07/2008
Reeditado em 01/01/2009
Código do texto: T1089434