Tarde de chuva lá fora
Tarde de chuva lá fora, os gatos dormem, bem-te-vis chamam pelas fêmeas e o mundo segue na sua rotina não sei se diria quase útil ou quase inútil, de tão sóbria que é.
Velhos passam no seu ritmo de casa, levam sacos pela mão... e algumas crianças sorriem depois da escola.
Como lhes invejo a sabedoria, de uns e de outros. Uns porque já passaram os outros porque passam ainda.
É que no meio - ao contrário do que dizem -, não está virtude alguma, quanto muito um desacerto emocional, o resto é conversa de retórica, como um bom símbolo pagão. Pling,
pling, a vida que escorre, das paredes ao chão, da poça ao bueiro... pling... chuap... Ei, por favor, tem horas, que me diga!? Pobre coitado, fugiu-lhe o guarda-chuva! Também, pudera, com o vento que vai na rua... e a chuva? A chuva está no saco do velho, no sorriso das crianças, nas paredes da escola, na poça lá por perto, no bueiro junto à estrada, no chapéu voador e no meu relógio sem horas, porque resolveu parar enquanto eu observava tudo isto. Pling, pling... tarde de chuva lá fora, os gatos ainda dormem, os bem-te-vi, não sei deles e o mundo é esta útil paisagem para quem tem olhos cansados.
Jorge Humberto
12/04/05