O Jardineiro Fiel *

Eras apenas um grão,

Tão pequenino,

Na palma da minha mão,

E eu intranqüilo

Por deixar cair ao chão

Aquele ser franzino -

Inevitável maldição

Amar demais aquilo

Que precisa ir,

E eu te deixei partir...

Eu, a chuva, o sol,

Os passarinhos,

Os bichinhos

Que eu não sei o nome

Todos os vizinhos,

Mataram-te a fome,

Mataram-te a sede

E vede: agora és grande

E tendes cores diferentes

E aromas e enfeites

Que me fazem sorrir...

Rasga a minha pele,

O teu espinho,

E a tua pétala me traz

O teu carinho,

E aperto-lhe em meus dedos

Para nunca mais soltar

E, bem devagarzinho,

Vais ficando, até morar

Pra sempre ali,

No meu jardim,

No meu capim,

E assim,

Flor dos meus sonhos,

Ferirás somente a mim,

Perfumarás somente a mim,

E só darás semente a mim...

09 de fevereiro de 2006

* Apesar de ter o mesmo título do excelente filme de Fernando Meireles, o poema nada tem a ver com a sua temática.