AÇAÍ

Nasci aqui,

Sou filho dessa bendita pátria...

Macapá.

Vim louco de saudades,

Vim matar a necessidade de uma seresta nas noites de luar.

Vim sentir o cheiro dessa ilha,

Dessas matas caboclas.

Sou capim da terra,

Sou filho da Amélia, de Dodó,

Sou do Amapá.

Quero tomar caldo de peixe,

Abraçar os meus velhos amigos, escutar a música do Zé Miguel, Amadeu e Osmar.

Andar pela Zagury sentindo a brisa do rio mar,

Renovar a minha energia, no verde da floresta,

Na rua de qualquer bar , no palco do Liverpool

Cantar, dançar e beber a água do poço do mato.

Sou do igarapé,

Sou de são José,

Sou moleque da aldeia,

Sou índio, sou Guará.

Papa chibé nas horas vagas,

Sou verde e amarelo, aprendiz de saci...

Açaí.

Não tenho cor nem raça,

Sou luz, sou praça, sou a liberdade de um pássaro.

Só não quero hipocrisia no meu lar.

Podem falar do que quiser,

Podem rir a valer,mas não vão chorar.

Parem de reclamar,

Podem contar histórias,

Mas não deixem a poesia ir embora.

Preservem a natureza e vivam como os ribeirinhos.

Vamos aprender a ler,

Vamos nos preocupar em salvar o planeta.

Aproveitemos o dia e vamos nos banhar no rio Amazonas,

Vamos nos embrenhar nas matas com a viola,

Adormecer sob a sombra da Andirobeira,

Do cedro, dos ipês e da castanholeira.

Porque só haverá futuro se a gente

Que mora neste lugar amar e respeitar a natureza.

Essa é a casa sagrada do mundo,

Essa é a nossa casa.

Vamos brincar na floresta,

Vamos passear de barco a remo,

Vamos admirar a flor do tajá,

Vamos tomar tucupi, comer maniçoba e dançar o Marabaixo.

Nessa passagem o que se leva é o sorriso calado das almas

E o beijo molhado do orvalho nas flores.

Vim do oriente vendo a guerra,

Vim de Angola vendo miséria,

Por isso, não quero além do leito raiz.

Não quero adoecer possuindo carros;

Não quero perder a vida juntando coisas,

Não quero morrer possuindo dinheiro.

Basta para mim, basta pra mim.

Uma pinga, com uma rede preguiçosa,

O calor dos meus amigos, a união dos meus irmãos,

O colo de minha mãe e uma janela simples,

De onde eu possa ver os meus filhos crescendo livres.

Obs: Essa é uma simples homenagem a um rapaz, chamado Adroaldo Júnior, que é cheio de luz e que volta a sua terra

depois de três anos e mostra toda a sua humildade no meio daqueles que se acham reis no Brasil.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 01/08/2008
Reeditado em 05/08/2008
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