Meu neném

MEU NENÉM

Quem manda é o neném.

De minha parte

Submeto-me à serviçal prestância

Sem questionar quase nunca

A validade do presto.

É que neném não conhece

O universo de palavras

Que ganham sentido em ouvidos

Mas não impressionam os seus.

Um neném nunca avalia

As consequências de um fato.

Tudo nele é de improviso

Até os contos de fadas

Que recebe satisfeito

Convencido que é verdade.

Quem tem um neném em casa

Sorri para Deus as risadas

Que nem sabia que tinha.

E o neném segue tranqüilo

Olha em volta e não diz nada

Arrumando ao seu sem jeito

Muitas vidas desgastadas.

E mesmo quando cede ao tempo

É possível descobri-lo

Por exemplo, quando dorme.

Um neném nunca tem culpa.

Suas pernas ainda bambas

Têm estranha solidez,

Pois suportam os que capengam

Retorcidos pelos anos.

Na verdade eu desconfio

Que neném não tem idade

É mais um estado de espírito

Que malandro dribla o tempo

Prá ganhar a eternidade.

Meu neném dorme comigo

Enroscado aos próprios sonhos

Que pressinto serem calmos

Pelo riso desenhado

Nos seus lábios semi-abertos.

Satisfeito fecho os olhos

Dono da feliz certeza

De que o meu neném resiste

Às intempéries da vida.

Aldo Guerra
Enviado por Aldo Guerra em 12/02/2006
Código do texto: T110945