Cavaleiros do Vento

Fuja não do tempo mas das vicissitudes

Levante barreiras e crie espelhos

Reflicta neles a imagem dos bons exemplos

E rasgue os papéis que cria em seu redor

As encenações bizarras que não trazem valor

Arranque o mármore gélido do coração

Deixe o cheiro da terra penetrar no seu corpo

Renasça em cada amanhecer com uma alma nova

E viva com garra e determinação

Seja o menino que queria ir à lua

Ou a criança com cem anos

Reaja não entre as linhas mas em cima delas

Entenda que a vida é demasiado fugaz

E que dela depende a felicidade e a realização

Sinta o vento...

Não só a brisa mas os odores

Deixe-os penetrar nos ossos e na pele

Reaja aos estímulos que dele provêem

Deixe o incenso queimar e libertar o cheiro da alma

E olhe em direcção ao firmamento

Esqueça as palavras cansadas e repetidas

Modifique a perspectiva e recomece

Por vezes é preciso construir de novo

Demolir memórias e criar novas histórias

Não deixe o sofrimento pisar o ar

Flua mesmo quando a tristeza imperar

Abrace os amigos e sinta-se munido com armas

Essas são as únicas de que necessita para prosseguir

Reuna a força e a convicção e explore novos horizontes

Veja os pormenores que nunca viu

Reveja os detalhes que tantas vezes já observou

Redesenhe a vida em função da sua história

E faça dela uma passagem em cada instante

Um elo entre o passado que viveu

O presente que conquista a cada fôlego

E o futuro das suas crenças e convicções

Seja brando mas áspero nas certezas

Ténue mas aguerrido nas acções

Doce mas forte para prosseguir

Sinta o vento...

Depois de todos os pensamentos voarem

Veja como os odores persistem com igual intensidade

Não corra, caminhe antes com pegadas firmes

Não anseie desalmadamente porque o risco é alto

Serpenteie à velocidade do rio

Se ainda estiver entre as linhas

Ouse pisar ou passar para além delas

A vida não é feitas entre linhas

É antes sim feita a espaços

Entre espaços

Interstícios de recordações

Intervalos onde tudo oscila

Pólos onde os extremos se atraem ou repelem

Leis que coexistem e que se criam

Abra as portadas da varanda

Você é a vida com tudo o que ela contêm

Sonhe, sorria, sinta o vento...

Sinta...

Continue a sentir...

Feche os olhos e deixe-se levar

O belo dentro de si voará rumo ao infinito

O céu é o auge

A Terra o alicerce

E a história termina aqui

Para dar espaço a outra....

E outra ainda...

Porque as histórias nunca acabam

Apenas viajam entre corações