Ressaca

Ressaca

na madrugada fria

troco pernas em passo bêbado

e bebo lentamente o gosto do luar.

Pela rua deserta

troco meus pensamentos em passo louco

e bebo antecipando o gosto da ressaca.

Levo comigo meu violão

debaixo do braço o livro de versos

e na cabeça a idéia de uma nova canção.

Agora, perdido na madrugada fria,

troco pernas e pensamentos

com o gosto da ressaca do próximo dia.

Ainda assim continuo a beber o luar

com meus lábios loucos de poeta

naufragado em copos de bares noturnos.

Naufragado nas ilusões desse mar

afundei-me por completo

por não saber ao certo

como se deve amar.

Mauro Gouvêa

Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1983