METAMORFOSE


Hoje não quero ser eu. Voltarei ao apogeu... Sairei do meu museu...

Cansei de mim. Volto de onde vim... Fantasiado de Arlequim...

Quero ir embora mundo afora... Fugir das prisões de outrora... ver nascer novas auroras... sair agora, sem demora... mas, também, que importa? não tenho hora...

Vou deixar a cara no armário... experimentar ser hilário... não quero ser gregário... mas só... bem solitário...

Ver a vida que não vi... ávida... impávida... sem saída... quem sabe pedida... ou perdida... sem medida ou recaída...

Ficarei ao léu... girando em carrossel... não quero ser mais fiel... estar sempre no mesmo papel... com o mesmo troféu... deitar-me ao relento e olhar para o céu...

extasiar-me com a beleza das estrelas e bendizê-las... procurar as cadentes... preciso vê-las...

Vou ser palhaço... ocupar o meu espaço... sem estardalhaço...até sentir cansaço... e então, sem embaraço, procurar um regaço...

Deixar para trás a aridez que não me fez ver com lucidez... ser insensato porque não suporto mais sensatez... como é a embriaguez?... minha altivez me conduziu à timidez... e agora só me resta talvez...

Como é a euforia?... pôr para fora toda alegria?... onde se ganha carta de alforria?... ali há fantasia?... Como encontro a boemia?...

Minha imaginação açulo... não me anulo ou me maculo... vou sair do meu casulo... e aceitar o que é chulo...

Hoje é meu dia... decoro uma melodia bem vadia... dou asas a minha imaginação fugidia... Ah!, minha terra lavradia... é aí minha moradia...

Vagar no submundo de onde sou oriundo... ser vagabundo ou, se quiserem, vagamundo... tornar-me infecundo... com determinação afundo para ir ao fundo... quanto a isto não confundo...

Hoje não quero ser eu... Cansei de mim... Quero ir embora mundo afora... Vou deixar a cara no armário... Ver a vida que não vi... Ficarei ao léu... Vou ser palhaço... Vagar no submundo de onde sou oriundo...

Esta metamorfose me conduzirá a uma simbiose?... sei, apenas, que já esgotei minha dose de neurose... vou em busca da minha apoteose...

Mais um carnaval que passa... não tive coragem de enfrentar vida devassa... me assusta a massa... tenho medo de gostar daquilo que não sou e de abraçar quem me abraça... é preciso ter ousadia para tirar esta máscara, que é uma ameaça... à vida que já é tão escassa... não, não quero embarcar nesta aventura. 

                                      E SE ELA FRACASSA?












nvelasco
Enviado por nvelasco em 15/02/2006
Código do texto: T112384