BRASÍLIA

QUANDO A FORÇA DAS MINHAS MÃOS SEPULTAVAM OS TIJOLOS

PARA O BRASIL NASCER NUMA ESCOLA, NUMA RUA, NUM HOSPITAL, NUMA PRAÇA,

NUMA HIDRELÉTRICA OU NUM CAMPO DE FUTEBOL...

CONDUZINDO OS MEUS FILHOS AO FUTURO, NÃO HAVIA TEMPO;

QUANDO OS MEUS PÉS FAZIAM O CAMINHO DIA-A-DIA PARA

QUE A ORDEM FOSSE CHAMADA DE PROGRESSO...

O PAÍS SE VOLTAVA PARA MIM E ME FAZIA ACREDITAR NA LIBERDADE.

HOJE, QUANDO OS MEUS CABELOS PERDERAM A COR DA JUVENTUDE DE TANTO TRABALHAR;

HOJE, QUANDO OS MEUS PÉS TÊM DIFICULDADES NO ANDAR;

HOJE, QUANDO OS MEUS OLHOS NÃO SABEM MAIS DIFERENCIAR O DIA DA NOITE,

TÃO POUCO IDENTIFICAR A FORMA DAS COISAS;

HOJE, QUANDO PRECISO DE VOCÊ PARA AO MENOS AS MINHAS PESADAS E CANSADAS MÃOS TOCAR...

SOU POSTO NO LAR DE TODOS OS BRINQUEDOS, QUE PASSARAM DA ÉPOCA DE BRINCAR.

NÃO TENHA MEDO.

MAS SE HOJE VOCÊ É JOVEM,

PENSE NA FELICIDADE QUE UM DIA TERÁ, SE AOS MEUS OITENTA ANOS CHEGAR.

SÓ NÃO POSSO DIZER SE COMPREENDERÁ, QUANDO DA MESA DO MUNDO NÃO MAIS PARTICIPAR;

SÓ NÃO SEI DIZER SE ENTENDERÁ, QUANDO DO ESTADO PRECISAR.

SE MORRER AO ESCRAVO É A LIBERDADE,

ANTES QUE PEÇA A MORTALHA NÃO VIVA A VIDA SÓ PARA VOTAR;

NÃO VIVA A VIDA SÓ PARA PAGAR;

NÃO VIVA A VIDA SÓ PARA SER VOTADO.

POIS QUE SE NO INFERNO HÁ CASTIGO,

A VIDA DE UM CIDADÃO PASSIVO, MEU AMIGO, NOS RESERVA O EXÍLIO DO ESQUECIMENTO,

A DOR DE UMA ALMA PENADA.