A FELICIDADE SUBLIME DA NUDEZ

ao deitar sobre teu corpo nu,

espantei medos:

teus contornos

- inexplicavelmente -

conheciam meus contornos

em movimento e envolvimento;

enquanto teu receio,

- medrosamente -

trêmulo de amor,

soube conter a febre

deste corpo que te invade...

ao deitar sobre teu corpo nu,

percebi quão ridícula é qualquer nudez:

teus olhos,

- castamente fechados -

precisados de cumplicidade,

despiram-se das pálpebras

até consentir

os meus

- já também sem pálpebras –

deitarem-se na mais completa mudez

dos olhares entreabertos

a esconder meu

corpo

que deitou sobre teu corpo nu

e com a boca cheia de paladares...

pelo beijo

- de tamanhos exato -

inquilino da paz de nossos lábios,

passeadores, que dão vida ao corpo

até o desmaio da boca

a pedir

- com certa urgência -

a absoluta simplicidade das mãos

entre as tuas pernas,

em cruz,

cruzadas nas minhas costas

espremerem-me por inteiro,

até a última convulsão

da nudez por tamanha nudez entreolhar.

E, amanhã,

ao deitar sobre teu corpo nu,

quando nossos medos, mais emagrecidos,

não mais sentir o pudor

da felicidade de gritar ao mundo

o quanto o sexo com amor é simples,

sentiremos tanta vergonha

da nudez que não embalamos pra viagem.

E, amanhã,

ao deitar sobre meu corpo nu,

quando tudo de mim em ti estiver guardado,

sorrirás sem sentir o riso

da felicidade a imitar os não vestidos;

e nus

com a pele com cheiros de nós,

- inconfundível -

deitaremos falando palavrões descabidos

em nome desse amor de corpos nus, grudados,

inteiros, prontos, quase inseparáveis

prontos para despudorarem-se

ao amor nu de nós, tão acriançado,

a saborear nudez, sem constrangimento.