Morte Cerebral

Passa por mim o aroma,

o suave calor da neblina densa.

Afeta minhas ingênuas narinas

e traz a mim minha doce infância;

tempos de Alices e Dorothys.

Sinto-a e tento absorvê-la.

É fácil e saboroso.

Logo, alguns vaga-lumes começam a assanhar minhas pálpebras

e minhas pupilas ganham a forma do globo.

É quando mais enxergo a realidade

e por onde transpasso a barreira do certo e errado.

Agora sinto o perfume e aspereza

das flores do mal.

Percebo a dormência da epiderme

e a fuga falsa e inexata dos sentidos.

Passo por sete selos

e sete cores,

antes da chegada de um diamante louco em um céu de baunilha.

Chove em meu peito algo pesado e quente.

Meu coração reage e acelera.

O sangue chega mais rápido à cabeça

e meus pensamentos se esvaem no compasso da maré.

Hoje a lua é cheia e brilha.

Amarelada como um queijo

e alegre como burgueses em dias românticos,

em filas de hospitais e bancos.

Até a música é mais lenta

e destrutiva como o progresso estagnado em máquinas minúsculas.

Estou preso, ainda, nessa névoa serpentina.

Continuo rindo de atitudes banais

e andando a passos largos no corredor da morte.

Toco o seio inchado da virgem

e escuto o zumbido de uma mosca atrevida.

Talvez tenha esquecido de fechar a janela,

ou, talvez, ela esteja devorando meu cérebro.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 15/08/2008
Reeditado em 26/11/2008
Código do texto: T1129268
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