[Além da Inocência]

O que haveria além da inocência,

que mundo se descortinaria,

se eu cessasse de admirar

a simplicidade traiçoeira

da trajetória de um caracol

descrita numa pedra abandonada

no vetusto jardim dos meus dias,

a solidão rebrilhando ao sol?

O que seria feito de mim,

caso eu perdesse a minha inocência?

e se além, eu encontrasse o Nada,

aonde eu levaria o meu tédio?

A resvalar na declividade perfumada

e remansosa do teu colo macio?

Descreio de possibilidades assim...

Eu te olho, tu me olhas...

Mas se é certo que nos amamos,

conjuguemos os nossos olhares

na trajetória do caracol, assim...

Entrelacemos nossas mãos:

diante de tal mistério,

um beijo silencia, de vez,

palavras, de todo, inúteis.

[Penas do Desterro, 15 de agosto de 2008]