ENFIM FEIAS
Infelizes, até feias,
são as mulheres que vão às compras
e voltam com sacolas cheias de entulhos,
as mulheres que moram em casa de vizinhas
e sabem da vida de todo mundo de cor e soletrado,
as mulheres que fazem reflexos permanentes
e não saem de casa sem batom ou celular,
as mulheres que não guardam mais a esperança
de, um dia, bonitas voltarem a ser.
Infelizes, até feias,
são as mulheres cheias de ciúme dos amantes
que por eles morrem quando lhes falta fidelidade,
as mulheres que, de corpos belos e maiôs inteiriços,
escondem, para a felicidade das praias, corpos plenos,
as mulheres que, de tão desacostumadas ao sonho,
temem por um gozo involuntário em meio à noite,
as mulheres que voltam do trabalho, sempre de mau humor,
desconhecedoras da alegria que a casa lhes devolve,
as mulheres que não guardam mais a lembrança de como eram,
apesar de, reconhecidamente, nunca terem sido bonitas.
Infelizes, até feias,
serão todas as mulheres que não guardam um quê de sutileza,
sem ter a noção de estar num tempo qualquer
(presente, futuro, passado)
ausente de qualquer grande amor; para depois, bem mais tristes,
deporem, sem nenhum pudor, tamanha tristeza em tanto vazio,
apesar dos homens dormidos por todos e todos os lados.