O QUERER
Pontua em mim o abrolhar de um novo querer.
Não sei qual. Não sei como. Nem sei sua cara,
se barba, se tem o fulgente semblante da serenidade,
se cara tem. Aparece como em pentagramas.
Pontos negros, espalhados pela fervura que anima;
vem de algum fundo, e esparge como o que flutua.
Cogumela por entre nossos corpos.
Traz o que se produz em campos infinitos e desconhecidos,
de onde nada sabemos,
a não ser que enraízam por um tempo de sofreguidão.
por mais êxtase portem.
Embriaga-nos com seu sorriso. Seduz-nos seu olhar.
Mas, pior, obriga-nos a um sofrimento do cumprido.
Se houver o não, haverá a destecedura do provável.
Inexiste o ponto de partida, e o findar em esteios.
O querer é o flamívolo que deita em nossas delicadezas.
O querer nos move à vida. Seja lá como a vida se desdobrará.
O querer não toma conta. Torna-se.
Assume-a em lugar de nós.
Não como posse da terra, mas como a terra.
O querer não resplandece, ele é sempre.
2006
alfredorossetti.com