Efêmera

Nem era dia...

E tu despidas do manto da carne, sem querer te exibias;

E tu escondidas no canto, sem saber eras inventada.

Sob a voz calada de um par de silêncios,

Entre os papeis do tempo. Recatada morena, sem saber me fazia.

Nascia...

Nascia em mim, nascia.

Nunca ousei viver tamanha fantasia assim.

Fantasia que soltou a fera,

Despertando uma saudade,

Uma alegria, ainda vazia, ainda sem era.

A noite no sonho o corpo verbava inconsciente,

Talvez agonia,pois não respondia de fato o que tu querias,

Mas a alma teimosa, aos poucos se refazia.

Mesmo sob as dores,

Mesmo sob as tristezas e lamentos que eu carregava do dia-a-dia.

Tu, tão pura, como a luz do nada surgia.

Pulsando bem devagar, crescia, crescia e me envolvia.

E me envovia, me sufocando sob um lampejo de horas.

Teu olhar, tua boca...

Tua rebeldia.

Assentado sob a voz do momento,

Te via acostada a costurar por dentro uma censura.

Como podes ser tão simples a luz da rua ?

Tão viçosa, calma e tão nua ?...

Pensar você ou com você, não há pecados;

Bem como, sem você não há paraíso e nem reinado.

Até você, minha solidão não se sentia acompanhada,

Até você, não sabia se existia a beleza do meu lado.

Perguntado pela repentina necessidade de ti,

Meu peito anônimo mudo e encantado não respondia...

Por certo não era amor;

Bem como, não devia ser algo que em vão passaria ao passado.

Quem saberia dizer ?

Quem saberia escolher melhor?...

Se o coração mesmo sentindo, em transe,

Não sabia dizer, além de repetir...

Que a vontade queria, queria muito...muito ter você.

Contudo, mesmo quando as malas estavam sem rumo;

Mesmo quando o sangue se perdeu da enérgia...

Os olhos, que solitários fizeram a visita no cantos;

As mãos frias, que em segundos fizeram harmonia com as tuas,

Querendo te servir não te encontravam;

Querendo, querendo vencer o medo;

Querendo, enfim, ser de ti um único pedaço,

Um laço, numa união sem fim.Se viu só no deserto de um parto;

Andadando em círculo entre as flores do regaço,

Gemendo sem esperanças, por entre as horas do impossível...

Até descobri, que tu, de corpo, nos segundos presentes...

Da lágrima corrente, não mais existia.

Nem era dia...

Era noite fria.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 18/08/2008
Reeditado em 18/09/2008
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