Os fantasmas da memória

Os troncos cortados no chão do bosque

São como os homens degolados nas esquinas da cidade.

Não sangram mais, secam, apodrecem.

A terra negra de carvão, as cinzas ao vento.

Uma árvore em forma de cruz abre os braços

E resiste: queima ainda, se consumindo em solidão.

Um pássaro morto num galho caído,

O canto parado no ar, como se ainda cantasse.

Um ou outro tição brilha indeciso

Numa poça d’água, ao desamparo.

Uma estrela se espelha nessa poça

E agoniza, com a dor multiplicada.

Uma flor cresce na fuligem das ruínas

Com o medo cinza corroendo as pétalas diáfanas.