Tristeza amanhecida

Esta manhã eu ví acontecer

Uma manhã disforme

Como se a noite não despertasse

Para o dia que ainda dorme

As crianças não trouxeram sorrisos

Nem gosto de festa no olhar

Pareciam flores desrespeitadas

Com vergonha de desabrochar

Até os bêbados, fraternais

Companheiros simplórios da agonia

Se acotovelavam nas calçadas

Na precariedade do dia

Era tão dificil caminhar

Em meio àquelas aparências mortas

Não havia um sonho caridoso

Que me abrisse as portas

Tive uma vontade imensa de gritar

Por tantas coisas merecidas

E promessas melhores ainda vivas

Que nunca foram resolvidas

Nem mesmo do mar se ouvia

Uma canção que fosse tímida

Qualquer sinal que fosse trégua

Na brisa que seguia pálida

Quedei-me à dor

Desta tristeza amanhecida

Fuga, medo e o cais

Nesta manhã sem vida!